Educação on-line pode ser
definida como o conjunto de ações de ensino-aprendizagem que são desenvolvidas
através de meios telemáticos, como a Internet, a videoconferência e a
teleconferência. A educação on-line acontece cada vez mais em situações bem
amplas e diferentes, da educação infantil até a pós-graduação, dos cursos
regulares aos cursos corporativos. Abrange desde cursos totalmente virtuais,
sem contato físico - passando por cursos semi-presenciais
- até cursos presenciais com atividades complementares fora da sala de aula,
pela Internet. A educação on-line não equivale à educação a
distância. Um curso por correspondência é a distância
e não é on-line. Por outro lado, não podemos confundir a educação on-line só
com cursos pela Internet e somente pela Internet no modo texto.
A educação on-line está em
seus primórdios e sua interferência se fará notar cada vez mais em todas as
dimensões e níveis de ensino. Com o avanço da telemática, a rapidez de
comunicação por redes, a facilidade próxima de ver-nos
e interagir a distância, a educação on-line ocupará um espaço central na
pedagogia nos próximos anos.
A educação on-line nos traz
atualmente questões específicas com desafios novos. Ela é utilizada em
situações onde o presencial não dá conta, ou levaria muito tempo para atingir
um número grande de alunos em pouco tempo, como, por exemplo, quando precisamos
capacitar milhares de professores em serviço, que não possuem nível superior. É difícil organizar cursos
presenciais simultaneamente para 7 mil professores. O uso de
videoconferência, Internet e sala de aula permitiu que a USP, PUCSP e UNESP realizassem essa tarefa
recentemente, a distância, em todo o Estado de São Paulo. E essas situações nos obrigam a
pensar em processos pedagógicos que compatibilizem a preparação de materiais e
atividades adequados, a integração de vários tipos de profissionais envolvidos
(professores autores, professores orientadores, professores assistentes e
tutores), a combinação de tempos homogêneos e flexíveis, da comunicação em
tempo real e em momentos diferentes, as avaliações presenciais e a
distância. É um processo muito mais complexo do que o que realizamos no
presencial, porque exige uma logística nova, que está sendo
testada com mídias telemáticas pela primeira vez. É muito tênue a linha que separa os cursos de massa com qualidade e
os cursos de massa de baixo nível.
Alguns cursos por
teleconferênciaestão procurando criar formas de interação on-line cada vez mais
avançadas e combiná-las com outros espaços e tempos complementares, num local
próximo dos alunos. A combinação do broadcastcom algumas ferramentas da
comunicação on-line e off-line, principalmente via
Internet, é um dos caminhos mais promissores para o avanço da educação a distância e permite, ao menos em teoria, valorizar o
melhor da transmissão para muitos grupos e novas formas de interação.
A educação on-line também está
começando a trazer contribuições significativas para a educação presencial. Algumas universidades
integram aulas presenciais com aulas e atividades virtuais, flexibilizando
tempos e espaços, ampliando os espaços de ensino-aprendizagem até agora
praticamente confinados à sala de aula. O currículo pode ser flexibilizado,
segundo a portaria 2253 do MEC, em 20% da carga total. Algumas disciplinas
estão sendo oferecidas total ou parcialmente a
distância. O vinte por cento é uma etapa
inicial de criação da cultura on-line. Mais tarde, cada universidade irá
definir qual é o ponto de equilíbrio entre o presencial e o virtual em cada
área do conhecimento.
Existe hoje no Brasil uma grande
variedade de cursos on-line: cursos para poucos e para muitos alunos, cursos
com pouca interação e com muita interação, cursos centrados no professor e
cursos centrados nos alunos; cursos unitecnológicos e
outros com múltiplas tecnologias. Muitos desses cursos simplificam o
processo pedagógico, se preocupam pouco com a construção do conhecimento, são massificadores, só visam o lucro fácil.
Com a educação on-line, com
o avanço da velocidade de conexão pela Internet, pela TV digital e pelo celular
de terceira geração, teremos tanto a massificação semelhante à de boa parte dos
cursos superiores presenciais como novas formas interessantes de aprender
continuamente, presencial e
virtualmente; teremos materiais prontos focados no professor e outros em
contínua construção, com intensa participação dos alunos. É ainda prematuro definir padrões pedagógicos
na educação a distância, porque estamos em fase de
experimentação de vários modelos, formatos, que também afetam ao ensino
presencial.
Os múltiplos papéis do educador on-line
Com a educação on-line os papéis
do professor se multiplicam, diferenciam e complementam, exigindo uma grande
capacidade de adaptação, de criatividade diante de novas situações, propostas,
atividades.
Em uma parte dos cursos on-line continuamos com as aulas presenciais regulares,
acrescentando algumas atividades complementares a distância. Em outros, as
aulas são presenciais, mas há uma incidência maior de atividades virtuais, que
podem liberar os alunos de alguns encontros presenciais previstos
anteriormente. Em outros cursos só temos um ou dois encontros presenciais e a
maior parte das aulas e atividades é feita a
distância. Finalmente, organizamos cursos em que o professor não mantém contato
físico com os alunos e todas as atividades são realizadas basicamente pela
Internet.
O professor alterna cursos
on-line com um número de alunos semelhante ao das aulas convencionais com
outros com trezentos, quinhentos ou vários milhares de alunos, onde ele
gerencia uma equipe de professores assistentes e monitores, que por sua vez
atendem a turmas menores de alunos. Em determinados cursos o professor é
somente um autor, não participa diretamente do andamentos
dos cursos. Mesmo como autor, o conteúdo é tratado e editado por uma equipe
para dar o tratamento específico para as mídias e o perfil do público. O
professor participa de formas diferentes e exerce
papéis diferentes em diferentes situações que se lhe apresentam na educação
on-line.
O professor on-line precisa
aprender a trabalhar com tecnologias sofisticadas e tecnologias simples; com
Internet de banda larga e com conexão lenta; com videoconferência multiponto e
teleconferência; com softwares de gerenciamento de cursos comerciais e com
softwares livres. Ele não pode acomodar-se, porque a todo
momento surgem soluções novas e que podem facilitar o trabalho
pedagógico com os alunos. Soluções que não podem ser aplicadas da mesma forma
para cursos diferentes.
O professor on-line cada vez
será mais solicitado por outras instituições acadêmicas e corporativas para
participar em um módulo ou parte de um curso, muitas vezes distante do local
físico onde se encontra. Em determinados cursos poderá criar comunidades de
aprendizagem, com grande interação e enfatizando a construção grupal do
conhecimento. Em outros cursos lhe será pedido que interaja o mínimo por uma
questão de diminuir custos, de padrão da instituição ou da coordenação. Em
alguns cursos poderá pensar em vídeos, apresentações
complexas e câmeras para visualizar e interagir com os alunos, como videochats, enquanto em outros receberá a orientação de não
utilizar o chat por ser dispersivo ou de focar mais o
texto impresso e utilizar a Internet como mídia complementar, pela dificuldade
de acesso de uma parte significativa dos seus alunos. Ele precisa ter
flexibilidade para adaptar-se a situações muito diferenciadas e ter
sensibilidade para escolher as melhores soluções possíveis para cada momento.
O professor on-line está
começando a aprender a trabalhar em situações muito diferentes: com poucos e
muitos alunos, com mais ou menos encontros presenciais, com um processo
personalizado (professor autor-gestor) ou mais despersonalizado (separação
entre o autor e o gestor de aprendizagem). Quanto mais situações
diferentes experimente, melhor estará preparado para vivenciar
diferentes papéis, metodologias, projetos pedagógicos, muitos ainda em fase de
experimentação.
Hoje temos questões
pedagógicas novas que o avanço das tecnologias de comunicação nos colocam na
educação on-line e sobre as quais ainda precisamos de avaliação mais cuidadosa.
É difícil definir uma
metodologia adequada para cada tipo de curso on-line. É relativamente fácil
aprender a gerenciar cursos on-line que reproduzem as condições da sala de aula
convencional, os que têm um professor para uma média de 40 alunos e que começam
e terminam em datas específicas. Neles transferimos para o virtual as
concepções pedagógicas das aulas presenciais. Os professores centralizadores,
que se colocam como os que conhecem, organizam o curso a partir de textos e
atividades que reforcem o papel principal do professor; outros docentes que
possuem uma visão mais participativa do processo educacional estimulam a
criação de comunidades, a pesquisa em pequenos grupos, a produção individual e
coletiva. Temos programas gratuitos como
o AulaNet ou o Teleduc que facilitam a colocação de
textos, a organização de atividades no
ambiente virtual para professores e alunos sem muito conhecimento
tecnológico prévio.
Como a educação a distância permite formar múltiplas turmas simultaneamente,
o gerenciamento dessas situações novas exige planejamento, equipe pedagógica
competente e multidisciplinar e a aprendizagem de metodologias e utilização de
tecnologias ainda pouco conhecidos. Em educação on-line temos cursos que são,
como no presencial, de aprendizagem de habilidades específicas, cursos de
atualização profissional. Esses cursos podem ter uma proposta pedagógica mais
“empacotada”, mais programada e podem admitir alunos a qualquer momento, sem
data definida para começar e terminar.
Existem outros cursos que
são de formação, normalmente de longa duração, como os de graduação. Neles, a
organização pedagógica tem que ser muito mais cuidadosa. É importante
criar classes que mantenham identidade ao longo do curso, que tenham seu
professor responsável ao longo dos anos, e que equilibrem a transmissão de
informação com atividades de pesquisa em grupo e individualmente,
construindo o conhecimento de forma flexível e participativa.
Com o avanço da comunicação
por satélite podemos abrir tele-salas em todo o Brasil ou em toda a América
Latina simultaneamente. Uma mesma aula poderia estar sendo vista por milhares
de alunos em centenas de tele-salas, ao vivo, e com alguma interação: perguntas
por e-mail, por áudio-conferência ou por câmera remota podem ser feitas e o
professor responder as que lhe pareçam mais relevantes. O professor pode fazer
uma avaliação instantânea da compreensão da aprendizagem e ter um retorno
imediato da porcentagem de alunos com dúvidas em determinados pontos da aula e
pode rever esses pontos ao vivo para milhares de alunos.
Se tecnologicamente podemos
colocar milhares de alunos simultaneamente, do ponto de vista pedagógico qual é
o limite razoável para que o aluno aprenda?. Esta é uma situação que
enfrentaremos cada vez com mais freqüência. Vários cursos de nível superior têm
experiência em utilizar quatro salas de aula simultaneamente com até cinqüenta
alunos em cada sala, com videoconferência multiponto ou salas de
teleconferência com alguma interação em tempo real. Isso dá uma média de 180 a
200 alunos conectados simultaneamente. Pelas observações que tenho feito, me
parece possível realizar um bom trabalho com esse número de pessoas, se houver
um bom planejamento das aulas, das atividades
e uma boa comunicação do professor. Também é importante ter um monitor em cada
sala para organizar os grupos locais, para preparar os alunos para alguma
pesquisa inicial antes de uma aula expositiva, para organizar as questões e
encaminhá-las para o professor na aula ao vivo e para complementar a interação
posteriormente. É possível ampliar esse número de alunos em determinadas
situações: por exemplo para aulas magnas com grandes especialistas e que depois
poderão ser debatidas, adaptadas para grupos menores por professores
assistentes e monitores.
Algumas instituições pensam
a aula on-line por teleconferência como o único momento importante do processo
de ensino-aprendizagem, replicando o conceito de aula que existe no presencial.
Penso que uma das formas predominantes nestes próximos anos será a combinação
de aulas por vídeo, teleconferência ou
pela Internet com atividades em pequenos grupos e individuais feitas antes e
depois das aulas, parte on-line e parte off-line.
Estamos caminhando para um
conjunto de situações de educação on-line plenamente audiovisuais. Caminhamos
para processos de comunicação audiovisual, com possibilidade de forte
interação, integrando o que de melhor conhecemos da televisão (qualidade da
imagem, som, contar estórias, mostrar ao vivo) com o melhor da Internet (acesso
a bancos de dados, pesquisa individual e grupal, desenvolvimento de projetos em
conjunto, a distância, apresentação de resultados).
Tudo isto exige uma pedagogia muito mais flexível,
integradora e experimental diante de tantas situações novas que começamos a
enfrentar. Não podemos confundir a educação on-line só com cursos
pela Internet e somente pela Internet no modo texto.
Estamos aprendendo a
desenvolver propostas pedagógicas diferentes para situações de aprendizagem
diferentes.
As instituições sérias, mesmo quando têm muitos alunos, encontrarão formas de
organizá-los para que consigam aprender com qualidade. As instituições que só
buscam o lucro, organizarão cursos prontos, com pouca interação e apoio,
massificando o processo de ensino-aprendizagem, como acontece também no
presencial.
Existem dificuldades sérias
na aceitação da educação on-line. A primeira é o peso da sala de aula. Desde sempre aprender está
associado a ir a uma sala de aula e lá concentramos os esforços dos últimos
séculos para o gerenciamento da relação entre ensinar e aprender. O modelo
cultural e burocrático predominante nas organizações educacionais exerce também
um peso avassalador na inércia frente a necessidade de
inovar. Tudo é planejado ou decidido de cima para baixo. Os prédios, os
currículos, a contratação de professores são feitos em função do atrelamento (muitas vezes, confinamento) a salas de aula.
Os professores aprenderam
como alunos a relacionar-se com o modelo convencional de ensinar-aprender
dentro de um espaço bem específico que é a escola e dentro dela a sala de aula.
O papel principal que os professores assumem ainda é o de responsáveis por uma
determinada área do conhecimento e insistem em utilizar predominantemente
métodos expositivos com alguma (pouca) interação. Os alunos, por sua vez, estão
acostumados a ficar ouvindo, em geral, passivos, o que os professores falam e
esperam da universidade ou escola que lhes tragam em bandeja as informações
prontas. Nas faculdades particulares é freqüente ouvir: “Eu pago, eu quero que
me ensinem” e reclamam quando o professor exige mais pesquisa e trabalho em
grupo.
Ambos, professores e alunos,
constatam a inadequação desse modelo. Muitos intelectualmente sabem que
precisam mudar. É freqüente o discurso da participação, da mudança, mas, na
prática, no dia a dia, muitos ainda permanecem aferrados aos modelos
tradicionais, até porque não existem muitas experiências inovadoras perto de
onde eles lecionam. Por todos esses fatores, é difícil manter a motivação de
forma permanente.
É difícil manter a motivação
no presencial e muito mais no virtual, se não envolvermos os alunos em
processos participativos, afetivos, que inspirem confiança. Os cursos que se limitam à
transmissão de informação, de conteúdo, mesmo que esteja brilhantemente
produzido, correm o risco da desmotivação a longo prazo e, principalmente, de que a aprendizagem seja
só teórica, insuficiente para dar conta da relação teoria/prática.
Em sala de aula, se estivermos atentos, podemos mais facilmente obter feedback
dos problemas que acontecem e procurar dialogar ou encontrar novas estratégias
pedagógicas. No virtual, o aluno está mais distante, normalmente só acessível
por e-mail, que é frio, não imediato ou por um telefonema
eventual, que é mais direto, mas num curso a distância encarece o custo
final.
Com os processos
convencionais de ensino e com a atual dispersão da atenção da vida urbana, fica
muito difícil a autonomia, a organização pessoal, indispensável para os
processos de aprendizagem a distância. O aluno
desorganizado vai deixando passar o tempo adequado para cada atividade,
discussão, produção e pode sentir dificuldade em acompanhar o ritmo de um
curso. Isso atrapalha sua motivação, sua própria aprendizagem e a do grupo, o que
cria tensão ou indiferença. Esses alunos pouco a pouco vão deixando de
participar, de produzir e muitos têm dificuldade, a
distância, em retomar a motivação, o entusiasmo pelo curso. No presencial, uma
conversa dos colegas mais próximos, do professor, pode ajudar a voltar a
participar do curso. Á distância é possível, mas não fácil.
A maior parte dos cursos
presenciais e on-line continua focada no conteúdo, focada na informação, no
professor, no aluno individualmente e na interação com o professor/tutor.
Os cursos hoje – principalmente os de formação – convêm que sejam focados na
construção do conhecimento e na interação; no equilíbrio entre o individual e o
grupal, entre conteúdo e interação (aprendizagem cooperativa), um conteúdo em
parte preparado e em parte construído ao longo do curso.
Existe
hoje no Brasil uma grande variedade de cursos on-line: cursos com professor e
sem professor; cursos para poucos e para muitos alunos, cursos com pouca
interação e com muita interação, cursos centrados no professor e cursos
centrados nos alunos; cursos unitecnológicos e outros
com múltiplas tecnologias, cursos em parte presenciais e cursos totalmente a distância, cursos de formação e cursos de atualização.
Para cada curso podemos formular estratégias de ensino-aprendizagem
específicas.
Temos
cursos totalmente presenciais que utilizam algumas ferramentas de pesquisa e/ou comunicação on-line para algumas atividades
complementares. O foco principal é a sala de aula, mas o professor cria uma
lista de comunicação por e-mail ou uma página WEB, ou abre um fórum para
debates virtuais. Cada vez mais as disciplinas de cursos presenciais incorporam
ferramentas e atividades virtuais. Se o curso presencial é participativo, o
virtual amplia essa participação. Se o curso presencial é centrado no
professor, as atividades virtuais podem diminuir um pouco esse foco, mas no
essencial não o modificam.
Em
cursos presenciais podemos ter disciplinas parcialmente a
distância. Freqüentamos algumas aulas presenciais e as intercalamos com
atividades virtuais. A proporção de presença e on-line pode variar de uma
disciplina para outra. Em algumas podemos ter vinte por cento on-line, em
outras metade e metade, enquanto outras podem ter oitenta por cento ou ser
totalmente on-line.
Em
cursos a distância ainda estamos influenciados pelos
modelos tradicionais das grandes universidades como a Open da Inglaterra ou a
UNED, da Espanha, que na década de oitenta e nova estavam muito centrados no
conteúdo impresso, auto-instrucional, com apoio local. Algumas instituições
brasileiras copiam hoje esse modelo, focando o material impresso ou digital.
Criam cursos prontos, sem professor, com avaliação corrigida pelo próprio
programa.
Outras
instituições focam as tecnologias que multiplicam o conceito de aula presencial
como a vídeo ou teleconferência. Vêem as aulas centradas no professor, com o
poder de atingir mais alunos simultaneamente. Nestes últimos anos, com o avanço
da Internet, começam a combinar aulas ao vivo por vídeo ou teleconferência com
atividades off-line via Internet. O avanço maior foi na educação a distância on-line, no desenvolvimento de cursos pela
Internet ou Intranet. Como a Internet combina a
possibilidade de divulgar conteúdo com interação on
e off-line a um custo menor, muitas universidades e empresas estão
focando a educação a distância utilizando essa mídia
preferencialmente.
Encontramos
vários modelos de cursos pela Internet.
1)
Cursos focados no conteúdo, conteúdo pronto e alguma interação via e-mail,
listas ou fórum, que não ultrapassa vinte por cento da duração. São os
predominantes até agora, porque são mais baratos e rentáveis. Desenvolveram-se
mais até agora na área corporativa (cursos de e-learning, de treinamento
on-line).
2)
Cursos que equilibram conteúdo e
interação. Os professores preparam o conteúdo, que fica disponibilizado na
Internet e depois desenvolvem atividades de pesquisa e comunicação com os
alunos, o que toma aproximadamente metade do tempo do curso. Uma parte do
conteúdo está pronta e outra é construída ao longo do seu desenvolvimento.
3)
Cursos que focam mais a interação que o conteúdo, que se preocupam em formar
comunidades de aprendizagem que constroem em conjunto o conhecimento e
contribuem decisivamente para o sucesso do curso. No Brasil podemos citar,
entre outros, como pioneira da educação on-line
construtivista a Professora Lea Fagundes, do Laboratório de Estudos
Cognitivos da Universidade Federal do Rio Grande do Sule a equipe do programa de
Pós-graduação em Informática na Educação da mesma universidade. Outro grupo
importante na pesquisa e desenvolvimento de ambientes virtuais é o NIED –
Núcleo de Informática Educativa - da Unicamp, coordenado pelo Professor Armando
Valente. Atualmente o Programa de Pós-Graduação em Educação e
Currículo da PUC-SP está desenvolvendo um bom trabalho de pesquisa e realização
de cursos on-line, principalmente na formação de professores. Merece destaque também
a reflexão e prática do Prof. Wilson Azevedo no
gerenciamento de cursos on-line de forma cooperativa.
Entre os autores
estrangeiros sobre educação on-line destaco Robin Mason,
professora do Institute of Educational Technology
da Open Universitye também Rena PALLOFF e Keith PRATT pelo livro Construindo comunidades de aprendizagem no ciberespaço
– Estratégias eficientes para salas de aula on-line. Este texto resume a forma com que encaram a
educação on-line:
“Uma comunidade de aprendizagem
on-line é muito mais que apenas um instrutor interagindo mais com alunos e
alunos interagindo mais entre si. É, na verdade, a criação de um espaço no qual
alunos e docentes podem se conectar como iguais em um processo de aprendizagem,
onde podem se conectar como seres humanos. Logo eles passam a se conhecer e a
sentir que estão juntos em alguma coisa. Eles estão trabalhando com um fim
comum, juntos”.
Do ponto de vista didático,
podemos valorizar o melhor do presencial
e o do virtual. O que fazemos melhor ou mais rapidamente quando estamos juntos
numa sala de aula? É mais fácil conhecer-nos, criar laços, mapear os grupos, as
pessoas. É mais fácil organizar o processo de ensino-aprendizagem, a seqüência
de leituras, atividades, pesquisas individuais e de grupo, o cronograma, a
metodologia. É mais fácil também que o professor ajude os alunos a ter as
referências iniciais de um tema, o estado da arte de um assunto, os cenários de
uma pesquisa.
Depois desses contatos
pessoais, podemos ir ao virtual e aí aproveitar as vantagens que nos propicia.
A flexibilidade de tempo e lugar para acessar. Cada um acessa o curso
compatibilizando-o com as demais atividades pessoais e profissionais. Além
dessa liberdade de organização e de acesso, podemos no virtual desenvolver
atividades de pesquisa individual e em pequenos grupos. Cada grupo pode ter seu
próprio espaço de comunicação para eventuais trocas de resultados, antes de
divulgá-los para toda a classe. Podemos discutir alguns textos, fazer
comentários num fórum ou em alguns momentos em um chat
ou sala de bate-papo. Podemos tirar dúvidas com algum professor ou assistente
sem ter que ir pessoalmente a um lugar. Podemos divulgar os resultados das
pesquisas individuais e grupais em algum espaço da página do curso e
aprendermos juntos. E depois podemos voltar a encontrar-nos fisicamente para
aprofundar os resultados obtidos no virtual, fazer as sínteses possíveis e
encaminhar uma nova etapa de
aprendizagem, sempre envolvendo os alunos, com prática, leitura e reflexão.
Não podemos perder de vista,
a integração dos dois espaços – presencial e o virtual - e de fazer transições
suaves entre ambos.
Provavelmente necessitaremos de encontros mais freqüentes no começo de um curso
e depois podemos espaçá-los à medida que
sintamos mais confiança, conhecimento das pessoas e dos procedimentos
didáticos.
Diante desse perfil
planejamos as atividades, as leituras, o formato do curso, as ações inovadoras
e a integração das tecnologias. Selecionamos as ferramentas que vamos utilizar
e as personalizamos. Colocamos a estrutura do curso, os temas principais, uma
biblioteca virtual com os links principais
comentados. Preparamos os textos básicos que vão sendo colocados conforme o
andamento do curso. Consideramos importante planejar o curso como um todo e, ao
mesmo tempo, estar atentos às situações concretas que se
apresentam em cada grupo, para incorporar o que nos pareça mais válido,
para valorizar as qualidades dos alunos, para interagir efetivamente ao longo
do seu andamento.
Procuramos ter uma sala de
aula o mais rica possível de tecnologias: computador e multimídia para
apresentação e ponto de Internet para acesso on-line. Isso nos permite
uma grande flexibilidade na passagem de um momento de apresentação de idéias,
para outro de ilustração, de pesquisa, de contribuições dos alunos. Se um aluno
conhece um texto ou site interessante, vai lá
e o mostra diretamente à classe. Esse clima cordial e otimista contagia à maior
parte dos alunos e os predispõe a colaborar mais, a dar o melhor de si.
Como uma parte do curso vai
acontecer no ambiente virtual, mostramos esse ambiente ao vivo, onde estão os
textos, o espaço de colaboração, o que facilita a navegação dos alunos depois.
É importante também orientar
o processo de pesquisa, tanto do ponto de vista metodológico como tecnológico
(como fazer pesquisa na Internet). Assim é mais simples realizar pesquisas
orientadas, no virtual.
As primeiras aulas também
podem ser utilizadas para organizar os alunos em equipes, em grupos de
pesquisa, de projetos. Assim poderemos orientá-los melhor a
distância.
Quando propomos flexibilizar
o tempo presencial e virtual damos mais importância ao estarmos juntos. Nada
supera a presença física. O virtual é um pálido reflexo das possibilidades de
contato e intercâmbio que o presencial propicia e que exploramos
pouco. O virtual é mais “cômodo”, facilita o acesso a
distância, a comunicação em qualquer momento sem sair do nosso espaço
profissional ou familiar. Mas é uma interação muito pobre comparada com a de
estarmos juntos.
Como até agora a
aprendizagem é feita basicamente de forma presencial, não lhe damos valor. Em
cursos semi-presenciais, se demoramos muito para
retornar à sala de aula, há uma expectativa maior pelo reencontro, um desejo de
ver-nos, de estar juntos, de colocar em comum nossas impressões. A
flexibilização curricular re-valorizará a importância de aproveitar os momentos
de presença física.
Depois das primeiras aulas
presenciais, podemos marcar uma primeira leitura virtual de um texto e o início
da primeira pesquisa. Os alunos lêem o texto, colocam suas observações no
fórum. Voltamos ao presencial, aprofundamos as questões que apareceram no fórum
e vamos dando mais tempo para o virtual, vamos espaçando mais os encontros, de
acordo com a maturidade da turma, com o tipo de assunto. Como orientação
pode-se fazer a primeira aula virtual curta e depois manter uma relação de duas
por uma: uma presencial e duas virtuais. No virtual pode-se manter uma parte do
tempo ocupado em compreensão de textos fundamentais. Os resumos vão para o
fórum. As questões principais são resumidas pelo professor e se marca um
encontro virtual em tempo real (chat) para
aprofundar algumas das questões do fórum. Os alunos fazem suas pesquisas sobre
o mesmo tema, as colocam na página e as aprofundam no próximo encontro presencial.
Algumas atividades no chat são para tirar algumas dúvidas, onde quem
quiser coloca alguma questão em relação ao texto projeto e o professor procura
orientá-lo. Em outros momentos, organizamos grupos para discutir um tema bem
específico dentro de cada sala de aula virtual, com a supervisão do professor.
Cada experiência virtual
on-line tem o seu valor. Tirar dúvidas pode ser útil, se o grupo for
disciplinado e não muito numeroso. Os nomes dos alunos e do professor aparecem
em um canto da tela e todos sabem quem entra, sai ou permanece lá. Discutir um
texto ou questão em pequenos grupos em salas virtuais é interessante.
Corresponde à discussão feita em grupos numa sala de aula presencial. Através
da lista de discussão ou fórum o professor organiza os grupos com seus
coordenadores e salas respectivas e discutem o texto ou assunto indicado
durante um tempo determinado. O professor navega pelas várias salas, acompanha
a discussão, participa quando percebe que é conveniente. Essa conversa de cada
grupo fica registrada para acesso posterior de qualquer aluno na hora que ele
quiser. É importante que cada grupo faça uma síntese do que foi discutido para
facilitar o próprio trabalho de aprendizagem e de quem acessar depois. Essa
síntese pode ser colocada também no fórum para dar-lhe mais visibilidade.
É conveniente ter um
assistente para acompanhar no gerenciamento do chat.
A seqüência de perguntas e respostas é muito rápida. Ele se envolve mais com as
respostas imediatas e o professor fica observando mais o ritmo, o movimento e
faz rápidas sínteses ou colocações em menos momentos, mas significativos. Assim
consegue-se perceber melhor o que está acontecendo, quando há dispersões
desnecessárias ou quando ressaltar um aspecto que está sendo apresentado.
Como nem sempre é possível
reunir os alunos em horários predeterminados, o professor pode organizar também
discussões gerais ou grupais no fórum. É um espaço onde se podem criar tópicos
de discussão e cada um escreve quando o considera conveniente. Há fóruns
gerais, para todos e podem também ser organizados em
grupos, para discutir assuntos específicos e facilitar a interação. Os fóruns
de grupos podem ser abertos a todos ou só para cada equipe, dependendo do grupo
e da atividade. O importante é que os grupos participem, se envolvam, discutam,
saiam do isolamento, um dos grandes problemas da
educação a distância até agora.
As ferramentas de
comunicação virtual até agora são predominantemente escritas, caminhando para ser audiovisuais. Por enquanto escrevemos mensagens, respostas,
simulamos uma comunicação falada. Esses chats
e fóruns permitem contatos a distância, podem ser
úteis, mas não podemos esperar que só assim aconteça uma grande revolução,
automaticamente. Depende muito do professor, do grupo, da sua maturidade, sua
motivação, do tempo disponível, da facilidade de acesso. Alguns alunos se
comunicam bem no virtual, outros não. Alguns são rápidos na escrita e no
raciocínio, outros não. Alguns tentam monopolizar as falas (como no presencial)
outros ficam só como observadores. Por isso é importante modificar os
coordenadores, incentivar os mais passivos e organizar a seqüência das
discussões.
O ritmo do
presencial-virtual depende de muitos fatores. Não se pode estabelecer a priori
um padrão rígido. Cada professor encontrará o seu ponto ideal de equilíbrio e
depende também do grau de maturidade e cooperação da classe. O importante é que prever
uma espécie de aula-sanfona, que vai do presencial para o virtual e volta para
o presencial de acordo com o ritmo do grupo.
Hoje a possibilidade que
temos de troca no presencial é muito maior que no virtual (embora não
aproveitemos, em geral, o seu potencial). Com o avanço da banda larga, ao
ver-nos e ouvir-nos facilmente, recriaremos condições de presencialidade
de forma mais próxima e sentiremos mais o contato com os outros, que estão em
diversos lugares.
Pela avaliação feita com os
alunos, vale a pena utilizar ambientes
virtuais como ampliação do espaço e tempo da sala de aula tradicional, mas não
são uma panacéia para a aprendizagem nem substituem a necessidade de contatos
presenciais periódicos. Equilibrando o presencial e o
virtual podemos obter grandes resultados a um custo menor de
deslocamento, perda de tempo, e de maior flexibilidade de gerenciamento da
aprendizagem.
Educar em ambientes virtuais
exige mais dedicação do professor, mais apoio de uma equipe técnico-pedagógica,
mais tempo de preparação – ao menos nesta primeira fase - e principalmente de
acompanhamento, mas para os alunos há um ganho grande de personalização da aprendizagem,
de adaptação ao seu ritmo de vida, principalmente na fase adulta.
Com o aumento do acesso dos
alunos à Internet, poderemos flexibilizar bem mais o currículo,
combinando momentos de encontro numa sala de aula com outros de aprendizagem
individual e grupal. Aprender a ensinar e a aprender, integrando ambientes
presenciais e virtuais, é um dos grandes desafios que estamos enfrentando
atualmente na educação no mundo inteiro.
É importante neste processo
dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas
possíveis por cada professor, por cada instituição, por cada classe: integrar as dinâmicas
tradicionais com as inovadoras, a escrita com o audiovisual, o texto seqüencial
com o hipertexto, o encontro presencial com o virtual.
O que muda no papel do
professor? Muda a relação de espaço, tempo e comunicação com os alunos. O
espaço de trocas se estende da sala de aula para o virtual. O tempo de enviar
ou receber informações se amplia para qualquer dia da semana. O processo de comunicação
se dá na sala de aula, na Internet, no e-mail, no chat.
É um papel que combina alguns momentos do professor convencional - às vezes é
importante dar uma bela aula expositiva – com um papel muito mais destacado de
gerente de pesquisa, de estimulador de busca, de coordenador dos resultados. É
um papel de animação e coordenação muito mais flexível e
constante, que exige muita atenção, sensibilidade, intuição (radar ligado) e
domínio tecnológico.
Cada curso, cada professor vai fazer
isso de forma semelhante e ao mesmo diferente. Não podemos padronizar e impor
um modelo único da educação on-line. Cada área do conhecimento precisa mais ou
menos do presencial. É importante experimentar, avaliar e avançar até termos
segurança do ponto de equilíbrio na gestão do virtual e do presencial e de
caminhar para ampliar as propostas pedagógicas mais adequadas para cada
situação de ensino-aprendizagem on-line.
Todas as universidades e
organizações educacionais, em todos os níveis, precisam experimentar como
integrar o presencial e o virtual, garantindo a aprendizagem significativa.
Precisamos vivenciar uma nova pedagogia do presencial e do virtual. Não temos
muitas referências anteriores que transitem pelo presencial e pelo virtual de
forma integrada. Até agora temos ou cursos em sala de aula ou cursos a distância, criados e gerenciados por grupos em núcleos
específicos, pouco próximos da educação presencial. É importante que os núcleos
de educação a distância das universidades saiam do seu
isolamento e se aproximem dos departamentos e grupos de professores
interessados em flexibilizar suas aulas, que facilitem o trânsito entre o
presencial e o virtual.
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